Construção em 2030

Construção em 2030. Com esse título, o relatório elaborado pela KMPG traz previsões para o setor nos próximos sete anos.

Nos últimos anos, o setor de engenharia e construção tem enfrentado diversos desafios.

O período foi acompanhado das dificuldades de longa data, como um registro de desempenho variável, baixa produtividade e ciclos econômicos incertos.

Além disso, o setor também teve que lidar com o impacto da pandemia COVID-19. Isso trouxe interrupções na cadeia de suprimentos, escassez de materiais, inflação alta, guerra na Ucrânia e grandes lacunas de talentos.

Há uma pressão crescente sobre o setor para dominar dados e análises, e fornecer construção, edifícios e infraestrutura sustentáveis.

Os empresários do setor também continuam enfrentando incertezas de custo, bem como baixas margens de contratação, o que dificulta atrair graduados para o setor.

Percepções para um futuro próximo

O relatório reúne percepções para o setor, em seis tópicos essenciais. A íntegra do conteúdo, em inglês, pode ser acessada por esse link.

Lembrando que o cenário brasileiro de construção teve ainda uma peculiaridade a afetá-lo, isso há quase sete anos.

O combate à corrupção tirou do cenários grandes empresas, bem como também reduziu drasticamente o ritmo de crescimento do setor.

Desde 2014, o Produto Interno Bruto(PIB) da construção civil tem sido negativo, amargando taxas entre -9,0% e -10,0% de 2015 até 2017.

CONSTRUÇÃO EM 2030, PIB DO SETOR NO BRASIL

Portanto, essa leitura deve considerar o cenário de possível retomada de crescimento do setor no Brasil, como indica o PIB dos últimos dois anos.

Ademais, o país a mudança ocorrida na liderança do executivo nacional neste ano. Assim, há de se acompanhar o cenário político nacional e como será seu reflexo sobre o setor.

O artigo concentra-se em seis temas que devem ser observados pelo setor.

Desempenho dos projetos

O setor de engenharia e construção enfrenta desafios em relação à eficiência, previsibilidade e produtividade dos projetos.

Apesar dos investimentos em ferramentas de gerenciamento de projetos, os projetos ainda tendem a ultrapassar o orçamento e o cronograma, causando frustração aos proprietários do projeto.

As margens estreitas dos empreiteiros, a fragmentação da cadeia de suprimentos e a falta de compartilhamento de dados são alguns dos fatores que contribuem para a falta de previsibilidade.

A produtividade da construção está ficando atrás de outros setores, e a transparência limitada dificulta identificar e abordar baixo desempenho.

A adoção de tecnologias como IoT, IA, ML e automação, além do compartilhamento de dados e padrões de interoperabilidade, devem resultar em significativas melhorias na produtividade na indústria da construção.

Essas mudanças devem permitir que os gerentes de projeto identifiquem e resolvam problemas rapidamente, evitando atrasos e custos excessivos.

Além disso, deve haver um novo espírito de colaboração entre empreiteiros, fornecedores e proprietários, com um foco crescente na experiência do cliente e em questões como ESG e sustentabilidade.

Isso reflete nos indicadores executivos considerarem não apenas custo e tempo, mas também segurança, qualidade e impacto no público.

Inovação

O setor de E&C está atualmente em um ponto baixo na curva de inovação.

Sobretudo, enfrenta desafios específicos, enquanto se adapta a um mundo pós-COVID de cadeias de suprimentos fraturadas, inflação, escassez de recursos e talentos, aumento das pressões de ESG e significativa disrupção tecnológica.

Apesar da adoção de algumas tecnologias, o setor de construção ainda está atrasado em inovação em relação a outros setores, com produção ultrapassada e falta de investimento em tecnologia.

A estrutura fragmentada do setor e a falta de mentalidade liderada pela manufatura são fatores que contribuem para essa situação.

A ameaça de disrupção por empresas de tecnologia também aumenta a necessidade de inovar.

Inovar no setor de E&C requer liderança em dados e colaboração entre empresas para obter benefícios mútuos.

A recomendação trata de se abraçar a inovação, para se tornar “empresas de dados que constroem coisas”, englobando modularização e padronização.

Gestão de riscos

Durante a década de 2020, o aumento dos megaprojetos trouxe grande pressão para as empresas de E&C.

Um projeto com falhas poderia prejudicar o desempenho de um ano inteiro e até mesmo derrubar a empresa.

A ausência de um gerenciamento de riscos corporativos sólido e de uma conexão adequada entre o gerenciamento de riscos do projeto impediu que os contratados avaliassem com precisão todos os seus riscos.

O cenário nacional ainda atravessa a necessidade da adoção de programas de integridades e de políticas de compliance cada vez mais sólidas.

É preciso expandir a gestão de riscos, inclusive sobre o nível corporativo, para obter uma visão mais clara do risco do portfólio.

Cadeias de suprimentos confiáveis ​​e resilientes

Forças geopolíticas, mudanças climáticas, pandemia de COVID-19 e conflito na Ucrânia aumentaram os custos de energia e materiais e interromperam cadeias de suprimentos.

Por conseguinte, há uma volatilidade nas cadeias de suprimentos, afetando a capacidade de programação e aumentando os custos.

Ademais, contratos rígidos com fornecedores também levaram a uma falta de colaboração e transparência na cadeia de suprimentos, inibindo o investimento em tecnologias.

Assim, os fornecedores tornam-se ainda mais estratégicos. O aprimoramento da inovação e da logística local devem ser incentivados pelas grandes empresas, com base no desenvolvimento do setor.

Desenvolvimento de pessoas

A adoção cada vez mair de tecnologia, da inovação e de meios produtivos mais eficientes tem atraído a percepção de talentos com maior graduação.

O investimento na atratividade de pessoal é ainda mais desafiador para o setor no Brasil, em que passou por baixas expressivas nos últimos sete anos.

A adoção do ESG impulsiona o investimento

Atualmente a indústria da construção ainda é vista como tendo uma alta pegada de carbono, desperdício e poluição, com falta de valorização da biodiversidade e engajamento com comunidades locais.

Embora tenha havido alguns projetos brilhantes de sustentabilidade, a indústria ainda precisava percorrer um longo caminho.

Ademais, a demanda por construções sustentáveis está crescendo, e os investidores buscam projetos com forte desempenho em ESG.

A produção circular, construções sustentáveis ​​e altos padrões éticos, fazem com que o capital de baixo custo flua para os projetos.



Autor: Marco Antonio Portugal
Marco Antonio Portugal. Mestre em Gestão da Inovação e Engenheiro Civil pelo Centro Universitário da FEI, com MBA em Gerenciamento de Projetos pela FGV, MBA Executivo em Administração pelo Ibmec e MBA em Administração pelo Centro Universitário da FEI, possui mais de 25 anos de experiência no setor de Construção Civil. Possui certificação como Project Management Professional – PMP® pelo Project Management Institute – PMI.

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